terça-feira, 18 de novembro de 2008

Melancolia de Outono

Levou tempo a habituar-se a andar sem ele ao lado, a querer contar sem ser ele a ouvir.
Voltava às ruas onde iam, aos lugares que frequentavam, sentava-se ali, imaginando que ele também se sentava e, por um momento, a angústia desaparecia e ela voltava a amá-lo como dantes. Sempre em vão, sempre calada, tecendo paciente sobre a mágoa o fio interminável do esquecimento.
Muitas vezes pensou que não queria voltar a vê-lo, outras tantas imaginou que era ele em cada uma das pessoas com quem se cruzava. Nas cinzas amargas daquela paixão, temia não o reconhecer como temia reencontrá-lo, não queria ver o seu olhar vazio da cumplicidade mágica que os unira, nem queria descobrir nele vestígios do amor mal resolvido.
Não voltou a pronunciar o nome dele e fechava-se num mutismo teimoso quando alguém ousava voltar ao assunto, ninguém percebia aquele desabar estrondoso de um namoro de tantos anos, daquele amor tido como inabalável e definitivo. A pouco e pouco, a firmeza daquele desgosto vivido em solidão ditou sobre o assunto um silêncio cúmplice e solidário, que a protegeu e deixou viver em paz o lento processo de apaziguamento.
Até que se esqueceu dele. Os seus traços esbateram-se, a sua voz deixou de ecoar na monótona repetição daquela despedida incisiva e fria e a recordação dele deixou de causar uma dor intensa sempre que a memória lhe passava o dedo de mansinho.
E ela abraçou com tranquilidade uma vida finalmente inteira.

5 comentários:

  1. Bom texto!
    Estilo raro por este blogue!
    Gostei imenso! Por isso, Parabéns!

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  2. Fantástico. Gostei imenso! Parabéns!

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  3. Anónimo15:20

    Parece que tem textura. Bravo!

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  4. Obrigada, assim já tenho desculpa para continuar a tentar! :)

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