Se Barack Obama ganhar na próxima semana na América, não será apenas por causa de Barack Obama. Ou de Bush. Ou porque o mundo pede mudança. A ascensão de Obama, a acontecer, precisará de ser explicada por outro motivo. Nunca um político terá sido tão pressuroso e eficiente a usar a linguagem do homem deste tempo: o homem populista.
Em todas as épocas da história recente, para ficarmos só por aqui, apareceu um tipo humano reconhecível, uma espécie de molde mental a que o homem comum e as suas características se podiam ajustar. Primeiro, Tocqueville descreveu o homem democrático, a figura mediana que nasceu com o advento da democracia, o homem que em nome da igualdade repelia qualquer noção de virtude aristocrática, o insatisfeito que implorava sempre por mais direitos e progresso.
Este homem democrático de Tocqueville nunca nos deixou. Com menos ou mais democracia, anda por aí com a mesma ansiedade e ambição igualitarista. Mas no século XX, é certo, transformou-se num género ainda mais indistinto: o homem de massas. Foi Ortega y Gasset quem melhor retratou a criatura massificada que aspira em permanência ao impossível e não possui, palavras do próprio, "nenhuma qualidade de excelência". O homem de massas é o homem que avançou com assustadora obediência para os totalitarismos do século passado; é também, perto de nós, o consumidor crédulo e apático que os críticos da imprensa predadora dizem querer salvar.
Qualquer sociólogo competente pode explicar o que aconteceu a seguir. A complexidade da vida moderna significa que ninguém é dono da sua própria vida. A nossa vida pertence ao Estado, à empresa, ao partido, a inúmeras famílias e organizações por onde a nossa individualidade se distribui. O homem moderno sofre fatalmente de personalidade múltipla. Eleitor, militante, trabalhador, contribuinte, membro disto e daquilo, a sua natureza profunda consiste em representar vários papéis sociais e em ir cumprindo o que lhe pedem.
Quando se rebela contra tanta obediência e representação, é para readquirir uma liberdade que admite ter perdido. Passa então a vestir uma identidade diferente: o homem revoltado que Albert Camus retratou num livro precioso, o contestatário que não pretende seguir nada nem ninguém a não ser a sua consciência, o agitador que julga, acusa e, ainda insatisfeito, pede mais justiça.
Agora, neste tempo de crise e desconfiança, chegou a vez do homem populista. Milhões de pessoas não pretendem saber se são ou não responsáveis pelo que quer que seja. Rejeitam à partida qualquer verdade incómoda e estão dispostas a acreditar somente no político exótico que, como eles, dividir o mundo entre quem tem e não tem poder. O homem populista quer acreditar, mas acima disso quer ver sangue correr.
Em todas as épocas da história recente, para ficarmos só por aqui, apareceu um tipo humano reconhecível, uma espécie de molde mental a que o homem comum e as suas características se podiam ajustar. Primeiro, Tocqueville descreveu o homem democrático, a figura mediana que nasceu com o advento da democracia, o homem que em nome da igualdade repelia qualquer noção de virtude aristocrática, o insatisfeito que implorava sempre por mais direitos e progresso.
Este homem democrático de Tocqueville nunca nos deixou. Com menos ou mais democracia, anda por aí com a mesma ansiedade e ambição igualitarista. Mas no século XX, é certo, transformou-se num género ainda mais indistinto: o homem de massas. Foi Ortega y Gasset quem melhor retratou a criatura massificada que aspira em permanência ao impossível e não possui, palavras do próprio, "nenhuma qualidade de excelência". O homem de massas é o homem que avançou com assustadora obediência para os totalitarismos do século passado; é também, perto de nós, o consumidor crédulo e apático que os críticos da imprensa predadora dizem querer salvar.
Qualquer sociólogo competente pode explicar o que aconteceu a seguir. A complexidade da vida moderna significa que ninguém é dono da sua própria vida. A nossa vida pertence ao Estado, à empresa, ao partido, a inúmeras famílias e organizações por onde a nossa individualidade se distribui. O homem moderno sofre fatalmente de personalidade múltipla. Eleitor, militante, trabalhador, contribuinte, membro disto e daquilo, a sua natureza profunda consiste em representar vários papéis sociais e em ir cumprindo o que lhe pedem.
Quando se rebela contra tanta obediência e representação, é para readquirir uma liberdade que admite ter perdido. Passa então a vestir uma identidade diferente: o homem revoltado que Albert Camus retratou num livro precioso, o contestatário que não pretende seguir nada nem ninguém a não ser a sua consciência, o agitador que julga, acusa e, ainda insatisfeito, pede mais justiça.
Agora, neste tempo de crise e desconfiança, chegou a vez do homem populista. Milhões de pessoas não pretendem saber se são ou não responsáveis pelo que quer que seja. Rejeitam à partida qualquer verdade incómoda e estão dispostas a acreditar somente no político exótico que, como eles, dividir o mundo entre quem tem e não tem poder. O homem populista quer acreditar, mas acima disso quer ver sangue correr.
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