(A propósito de "Love Streams", de John Cassavetes)
"Afinal era num tribunal. Ao saber que a filha fica "confiada" ao pai, Gena Rowlands colapsa sem qualquer colapso. Deita-se apenas no chão. Pura impotência. Mais adiante (...) Rowlands está no psiquiatra (em 1984 dificilmente estaria com um psicólogo) e ambos fumam (vejam lá). Rowlands explica que o amor é uma corrente ("love streams") e, como tal, é contínuo. Não pára. Tudo o que lhe acontece - a família esfarelada, a vida absurda - resulta de essa corrente poder ser interrompida, o que ela recusa. Aí entra o psiquiatra. Diz-lhe que, contrariamente ao que ela pensa, o amor pára ("it stops"). E pára mesmo. Se calhar, o papel do psiquiatra é precisamente o de nos dizer que o amor pára. Ele é necessário porque não existe qualquer corrente de amor em regime de continuidade. É ele que devolve "realismo" ao absurdo gerado pela não compreensão do fim da corrente. Talvez o essencial se resuma, afinal, ao meu querer que haja uma corrente infinita e ela não estar lá. Nunca. Daí o álcool, os comprimidos, os amantes furtivos. Deus? A Duras tinha uma "fórmula" cruel para dizer isto. O álcool tomou o papel de Deus. Substituiu-O. Será verdade? Os personagens de Cassavetes começam a beber logo de manhã.(...)"
Sem comentários:
Enviar um comentário