["o mistério do mundo" de *DaJe, in: olhares.com]
Dos tais três posts que escreveria, deixei este para o último… Mais do que uma reflexão é uma partilha...
“Liberdade é pouco, o que desejo ainda não tem nome”
Clarice Lispector
Clarice Lispector
Nesta nova fase da minha vida estou a (re)descobrir algo que sempre desejei, nesta busca do mais que me caracteriza… (Re)descubro a minha relação com Deus! Repito-me, talvez, mas deixo que se funda em mim a universalidade que desejo alcançar. Sou rico em desejos, como tal não me conformo a uma resignação a este mundo real que se deixa seduzir por uma diluição do sentido, chegando ao sem sentido, evitando ou anulando a todo o custo a realidade Divina…
Há dias espreitei a dureza do vazio interior… Creio que vivi a sensação deste sem sentido a que se pode chegar. Desde que sou jesuíta vou lendo a história dos santos e santas, as suas cartas, diários, pensamentos, textos, escritos e sempre pensava, como é que se pode ser arrebatado assim? O que é que leva a que ao mesmo tempo se encontre uma comunhão tão forte e logo de seguida se entre no abismo? E confirmo algo, em mim… A mediocridade é meio caminho para o sem sentido. De facto, viver nos limites da força do Amor, sem qualquer mediocridade, implica os riscos de dar tudo, mas também de perder tudo, com a única diferença de ser sempre com sentido. Claro que há imensas e eternas definições de Amor, mas falo é daquele que pode implicar mesmo a morte. Mas que tem isto que ver com o mundo real? E Deus neste mundo real?
Andar sob o peso de pressupostos é duro e impede que nos abramos a novas realidades que, acredito, o próprio Deus nos quer mostrar. Ter lido, como comentei há tempos, o diário de Etty Hillesum, derrubou-me. Levou-me a que entrasse no tal vazio interior forte, curiosamente ao mesmo tempo sentir uma confirmação em não ter medo de amar. De alguma forma reconheci-me na vida daquela mulher, nos seus sentimentos para com a (V)vida! Daí sentir que nos dias de hoje faz falta agarrarmos o sentido de dar, mesmo correndo riscos… Até de morte! Viver a "vidinha" quotidiana impede a descoberta funda de cada humano. Estamos subjugados a intrigas, lobbies, interesses, roubos, fraudes, mortes, ganância, vontade de poder desmesurado, perversidade, muita perversidade… Ao que pergunto: para quê? Para satisfação pessoal de alguns? De facto, a "vidinha" não pode ser resumida a interesses mesquinhos e fugazes, não. Também não pode ser resumida ao fechamento que leva à solidão.
Sinceramente, mesmo que a vida, por vezes possa parecer uma m…, há uma beleza imensa que brota do fundo da alma, com um sentido imenso que leva, por um lado, a relativizar, por outro, a deixar que a visão se abra e veja coisas novas… que ainda não têm nome. E não me canso de dizer: Deus, Deus é muito mais do que se possa pensar…
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