Procura-se

Precisa-se, para admissão imediata, de um(a) candidato(a) a líder do maior partido da oposição e futuro candidato a 1º Ministro.
Analisados os milhares de opiniões manifestados nos últimos dias em toda a imprensa formal ou informal, foram adiantados com veemência os seguintes requisitos mínimos:
- ser novo, arejado, bem falante, boa aparência (porque nos vai aparecer na televisão todos os dias, seja para ser gabado, caso seja Governo, ou vilipendiado
- ser senior, para inspirar confiança (que ninguém está disposto a dar-lhe)
- ter ideias, programas e projectos, inovadores e exequíveis (sem margem para incertezas)
- não mentir, dizendo apenas e só o que a realidade é (objectiva, claro)
- ser sensato, porque isto de inovações já estamos todos fartos (oh, se estamos!)
- ter um discurso bonito, apelar ao coração e criar-nos imensas ilusões (como nas novelas)
- deixar-se de conversas fiadas porque de discursos andamos todos fartos (não há pachorra!)
- não estar contaminado por qualquer grupo, grupelho, Governo, secção ou qualquer outro lugar de relevo onde tenha ousado tentar fazer o que quer que seja (vade retro)
- ter experiência, provas dadas, ser à prova de censuras ou amuos (não queremos vidrinhos)
- não ser teimoso (para avançar nas negociações sindicais)
- nunca ceder nem desistir (para não recuar nas negociações sindicais)
- não ter ambições pessoais (porque nunca terá reconhecimento algum, ainda que se esfole)
- ser ambicioso (senão não se metia nisso)
- amar o próximo como a si mesmo (para se dedicar por igual a todos)
- não ter amor próprio (porque vai ser insultado até pelos sapatos que usa)
- ser um profissional brilhante fora da política (cartão de apresentação)
- não ter nunca tido, nem de perto nem de longe, qualquer contacto com meios profissionais que possam vir a pedir os seus favores (não vão levantar-se suspeitas)
- não querer tirar qualquer perspectiva de futuro do lugar para que for eleito (incompatibilidades)
- ter o futuro assegurado fora da política, para não ficar dependente da mesma (isenção acima de tudo)
- não ser rico (porque é sinal de que roubou ou de que ganhou uma herança e nunca fez nada na vida)
- não ser pobre (porque está-se mesmo a ver que está à espera de enriquecer à custa da política)
- não ser remediado (porque prova que não é capaz de superar a mediania)
- estar preparado para falar, a todo o momento, de qualquer tema, nacional ou internacional, detalhe dos últimos dez anos ou notícia do dia (por causa das entrevistas à queima roupa)
- não querer enganar as pessoas a fingir que sabe falar de tudo como um livro aberto (sim, porque o povo não é parvo, toda a gente sabe que não há sábios)
- ser culto, falar com elevação, ler muito, ouvir música de todos os tipos, conhecer de cor museus do mundo inteiro e ter lugar cativo no S. Carlos (para fazer boa figura em qualquer cerimónia)
- não ser pedante, que o povo gosta é de quem tenha experimentado as dificuldades dos que têm pouco tempo para distracções (nada de intelectualices)
- tenha família para aparecer nas fotografias das revistas cor de rosa (para humanizar a política)
- não queira andar a exibir a família nas revistas cor de rosa (a reserva da vida pessoal como um valor)

A título exemplificativo, aqui ficam os requisitos essenciais para ser admitido ao lugar em concurso.
Se julga preencher estas condições (sem prejuízo de futuras adaptações em função das circunstâncias que o País e a conjuntura internacional venham a requerer), candidate-se JÁ. O Pais, finalmente unânime, vai aclamá-lo (a).