
Isabel Stilwell, no seu editorial, «Há dez anos à procura de Rui Pedro», de hoje do jornal, no Destak, fala-nos do desaparecimento de Rui Pedro e lembra-nos que amanha faz dez anos que desapareceu. No seu editorial publica excertos de um texto de Filomena Teixeira, mãe de Rui Pedro, que merece que aqui seja transcrito porque é de uma beleza enorme e de sofrimento que só uma mãe pode sentir:
«O Pedro é o mais velho de dois irmãos, um casal, com uma diferença de idades entre eles de dois anos e pouco. Neste momento Pedro tem 17 anos, já deve estar bastante crescido, cálculo pela altura da irmã e dos colegas da mesma idade. Os traços de menino devem ter-se transformado em traços de jovem e cálculo que o cabelo esteja demasiado curto, se bem que ele nisso era de luas, ora era pente um, ora deixava-o crescer até ficar com aqueles caracóis largos (…) Aos 11 anos era um rapaz alegre (…) Tinha uma personalidade especial e dominava onde entrasse, era o centro das atenções, não me perguntem porquê; pelo jeito como trazia o boné, pelas piadas, pelo sorriso, pelos beijos que não dava a ninguém! Pelo ar de que “está tudo bem”, não sei, ou pelos maravilhosos olhos que tinha e que provocavam sempre elogios que o deixavam envergonhado (…).
Até que um dia tudo mudou. O Pedro, o meu Pedro desapareceu! O Pedro que mudou as nossas vidas, que enchia a casa quando entrava, esse mundo desapareceu. E o mundo ruiu! (…) Durante dias deambulei, não comi, não dormi, não me recordo de tudo o que fiz, mas lembro-me de procurar dar atenção à minha filha (…) Tudo foi visto e revisto, os escuteiros ajudaram, e o meu menino não apareceu. Alguém viu a bicicleta dele abandonada perto do local onde supostamente foi visto com um amigo mais velho, um primo confirma que ele os convidou para esse dia. O resto é só pesadelo, só angústia, só o arrastar das pernas e a luz dos amigos, e o sol que tem sido o bombear do meu coração, que é a minha filha, e esta esperança que já me levou a contactar gente e me fez ver que havia um mundo negro, onde se traficam crianças e onde tanta coisa horrível se pode fazer com um ser indefeso (…) Para ti, meu filho, o meu abraço e aqueles beijinhos que só a mim de davas. Para si, meu pai, a promessa de não desistir!»
Sem palavras…
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