segunda-feira, 3 de março de 2008

Entrámos em casa de mãos dadas e ansiosos por trocarmos beijos, afinal já tinha passado mais de uma década que não nos víamos. Tínhamos vivido juntos três anos, mas porque há momentos em que a vida de cada um segue caminhos diferentes, tínhamo-nos separado, para forte desgosto e incompreensão minha.
Passou uma década e numa noite em Lisboa, acabamos os dois no mesmo jantar, foi impossível não trocar olhares comprometedores. Parecia um jovem adolescente que ansiava por ti. Não te quis dar grande importância, afinal já tinham passado mais de dez anos sem nos falarmos e já não sabia como me havia de dirigir a ti, como te podia cumprimentar sem parecer demasiado íntimo, até porque já não éramos.
O jantar passou com relativa calma, mas era notória a excitação de ambos naquele reencontro. Os anos não passaram por ti,o jeito do teu cabelo estava igual, o teu sorriso aberto mantinha-se com igual simpatia e o azul dos teus olhos continuam a dar-te um brilho especial, pensei.
Teve graça o nosso reencontrado naquele jantar, mais para mais, os meus amigos sabiam que desde que tinhas partido para Paris, há cerca de dez anos atrás, nunca mais nos tinhamos falado. Tinhas partido um dia sem dizer que ias e ninguém sabia por quanto tempo, se era definitivo ou seria apenas por uns tempos. Portanto, ainda me perguntei: terão os meus amigos planeado este jantar?
Deixe de me preocupar contigo e deixei-me levar pelo jantar, pelos amigos, pela conversa e pelo vinho. Esforcei-me para esquecer a vida que tínhamos vivido, os momentos que tínhamos partilhado e os segredos que tínhamos contado um ao outro. Nestes dez anos, fiz o possível para esquecer o teu cheiro na almofada que usavas sempre que dormias lá em casa, fiz tudo para esquecer que mantinha roupa, cd's, livros e um relógio teu lá em casa. Fiz tudo para viver a minha vida sabendo que já não estarias ao meu lado.

E quando soube que tinhas ido para Paris, mesmo tendo ficado magoado por não ter sabido de nada, achei que era a minha oportunidade de seguir em frente e de reorganizar a minha vida.
Contigo em Paris não tinha como querer ver-te, ouvir-te ou cheirar-te. Estavas longe e, até este jantar, achei que estarias para sempre.
Como quando te vi pela primeira vez, no nosso dia 25 de Agosto, voltaste a destabilizar-me o meu pequeno mundo organizado. Fizeste questão de te sentar ao meu lado, o que me deixou irritado e ao mesmo tempo satisfeito e excitado. Mas não tinha como te ignorar e não sabia quais eram as tuas intenções. A jantar contigo ao meu lado, voltei-me a lembrar das noites em que ao serão éramos os dois e as noites em que adormecíamos de mãos dadas, em que me abraçavas para adormecer,até que o calor era demais e tinha de me soltar de ti.
O jantar passou sem grande interesse, todos os amigos falavam de eles próprios, das suas profissões, de como corria o seu trabalho e tirando um deles que se mantivera bêbado desde a duas da tarde daquela sexta-feira, todos os outros estavam a perder o interesse à medida que a idade por eles avançava.
Os filhos de uns e o sono de outros, fizeram com que fossemos os últimos a sair. Asneira, pensei, já não tenho como fugir de ti.

Ficamos os dois à conversa até que o restaurante fechasse e nos mandassem embora. Decidimo-nos por um bar mesmo ao lado, onde me falaste dos teus dias e noites em Paris, do teu novo trabalho, de quem tinha passado por ti, dos teus novos amigos e dos teus novos projectos. Ouvi mais do que contei.
Ansiava por te levar para casa, voltar a deitar-te na minha cama, que há mais de dez anos se mantinha fria de um dos lados. Mas não sabia o que querias de mim e afinal ainda era um mistério a forma como me tinhas deixado.
Acabei por dizer que estava podre de sono e que estava a pensar ir para casa e, sem que tivesse à espera, respondes que ias comigo. Fiquei paralisado, a suar e excitado ao mesmo tempo.
Assim sendo, voltei aos velhos tempos, puxei-te pelo braço e levei-te para casa. Entramos em casa de mãos dadas e estava ansioso por trocar beijos contigo, afinal já tinha passado mais de uma década que não te via.
Acordo a suar, com a respiração descontrolada e sem noção de onde estou e quem está comigo. Afinal, é de manha cedo, estou em casa e não és tu que está ao meu lado, mas sim mais um engano de uma noite de copos.
Já lá vão mais de dez anos e ainda sonho contigo…

4 comentários:

  1. Anónimo18:39

    clap, clap, clap. muito bonito

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  2. Anónimo20:21

    bonito.
    é bom voltar a vê-lo com esperanças.

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  3. Estou baralhada! Reflexos da Primavera ou aconteceu mesmo e foi assim tão, tão... engano de uma noite de copos?

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  4. É apenas um desabafo e não aconteceu mas podia... talvez seja preciso mais uma década...

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