terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Sándor Marai, para ler de um fôlego e depois...voltar a ler, devagarinho


"...o amor, quando verdadeiro, é sempre letal. O seu objectivo não é a felicidade, esse idílico mão na mão (...) Isso é a vida, não é o amor. Um dia, acende-se em nós o desejo de conhecer essa paixão devastadora. Sabes, quando já nada mais se deseja para si, nem se procura o amor para nos sentirmos mais saudáveis, mais serenos, mais apagados, mas se quer ser, sem mais, a ponto de nos perdermos. Isso acontece muito tarde ; e muitos nem conhecerão um tal sentimento, jamais...São os prudentes, não os invejo. Há, depois, os vorazes e insaciáveis, que bebem de qualquer cálice que se lhes apresente. São criaturas que merecem compaixão. E há os determinados e astutos, os carteiristas do amor, fulminantes a roubar um sentimento, hábeis em extorquir um pouco de ternura e de intimidade dos recantos mais escondidos do corpo que, num sorriso cruel, já se afastam e se perdem o escuro e na multidão de que se faz a vida. E há os velhacos e sagazes, que no amor e nos negócios tudo calculam e anotam numa agenda objectivos e cadência da vida sentimental, vivendo de acordo com lembretes muito precisos. Esses são a maioria; e são mesquinhos. E pode acontecer que, um dia, alguém compreenda a finalidade do amor, por que motivo a vida favoreceu o género humano com esse sentimento... Foi para seu bem?... A natureza nada tem de benigna. Oferece, com esse sentimento, a felicidade? A natureza não precisa dessas ilusões humanas. A natureza só quer criar e destruir, é o que lhe interessa. É impiedosa, porque tem um projecto próprio, e é insensível, porque o seu projecto não leva em conta a humanidade. A natureza concedeu a paixão ao homem, mas pretende que essa paixão seja sem reservas."


in "A Mulher Certa" de Sándor Marai, ed. D. Quixote

2 comentários:

  1. Ah o amor...
    esse ópio avassalador...
    Obscuro ladrão da razão
    Capaz de operar maravilhas
    De mudar homens em deuses
    N'esse reino, onde sonho e ilusão
    São do mesmo pai, as filhas
    Onde se trans formam mulheres, em flores...
    ;)

    ResponderEliminar
  2. Ah o amor...
    Esse ópio avassalador
    Obscuro ladrão da razão
    Capaz de operar maravilhas
    De mudar homens em deuses
    N'esse reino, onde sonho e ilusão
    São do mesmo pai, as filhas
    Onde se transformam mulheres, em flores
    ;

    ResponderEliminar