domingo, 24 de fevereiro de 2008

Religião e Sexo, alguns apontamentos...





[
seda de Bruno Moniz, in: olhares.com]

Há dias… Aliás… Há bastante tempo atrás, o Pedro e eu estávamos de conversa… Comentava que os meus melhores textos surgem porque sou desafiado ou “picado”. Normalmente sobre algum assunto que me interessa e que tenha algum conhecimento na matéria para poder opinar convenientemente e não, simplesmente, porque sim… Então, com o desenrolar da conversa e meio a brincar meio a sério, pediu-me para escrever sobre Religião e Sexo [propositadamente em maiúsculas] …

Em mim não ficou esquecido, fiquei a pensar… Mesmo que estejamos em épocas do tudo para ontem, gosto de pensar com muita calma. Além do mais não tenho “objectivos” para cumprir até ao fim do mês. De facto, é um tema muito em berra, mais do que até eu possa pensar. Daí resolver “ir para a rua” e escutar…

… e nem de propósito, sobre estas questões, ontem fui ver o Scope, a última coreografia de Rui Horta. De facto, uma crítica à sociedade que vê o corpo como “carne para canhão", num aproveitamento sexual, quer do homem, quer da mulher. Aliado a esse aproveitamento, surgem outros inevitáveis, o das emoções e dos sentimentos. Quando entrei no espectáculo [interactivo com o público], tive a nítida sensação de ir directo ao meu pensamento… Corpo, relação, actualidade, filosofia, interacção, Relação, sociedade, amor, gritos, desejos, carne, vida, animalidade e humanidade, produto(s), sedução, Vida... Ser Humano!

Bem, Sexo é bom, muito bom! É capaz de haver quem não goste no amplo universo de pessoas. Mas, de uma forma geral, tendo em conta o quanto o tema é explorado nas mais variadas áreas, é algo desejado, apetecível e com muita vontade de ter... Pois, ter! Ou então, para suavizar usa-se o “fazer amor”, para distinguir da mera relação carnal. Nada de novo até aqui [pelo menos para os que não são virgens]…

No entanto, vou tendo a sensação de que na actualidade desceu-se o pensamento para a zona da cintura. Vivo essa experiência quando comento que fiz Votos. Lá vêm as eternas questões: “o casamento dos padres”, “a igreja como castradora”, “a autoridade vigente na cama de cada um”. Confesso, por vezes já nem tenho muita paciência, sobretudo no que toca ao esclarecimentos sobre a questão da castidade, mas só pelo simples facto do tema ser logo abordado e, por vezes, de forma tão veemente torna-se evidente que é algo bastante central… Mesmo que se diga que não…

Daí, entre várias razões, também como religioso, sentir a necessidade de me dedicar ao estudo mais a fundo do Corpo. Um dos meus últimos trabalhos de investigação foi sobre as dimensões da relação e da corporeidade no Ser Humano. Dei-lhe o título: Ser Humano: Ser Corpo em Relação. Será que nos conhecemos enquanto Corpo? E será que conhecemos a fundo a nossa dimensão corporal? E como é que vivemos a nossa relação uns com os outros?

E a Religião? Que tem com isto tudo? A meu ver bastante, para não dizer tudo! A Religião não é o afastamento do humano na transcendência, ou então, o simples respeitar de normas que vêm do alto. Cada um de nós está “re-ligado” a uma variedade imensa de situações e acontecimentos. No fundo, pensar a pessoa integrada e relacionada com o todo que é, nas suas várias dimensões: biológica, psicológica, sociológica, histórica e até mesmo religiosa.

Sinceramente, vejo cada vez menos separações nestas várias dimensões. Pelo facto de trabalhar o corpo nalguns dos seus aspectos – por exemplo, no filosófico, no artístico e no espiritual – percebo a importância que tem a vivência da nossa realidade pessoal no caminho de uma maior verdade. Na actualidade, com tantas possibilidades de desencontro, a pessoa deve chegar à individualidade de si própria, de modo a não ficar nem isolada, nem diluída na sociedade, curiosamente, bastante corporal.

O culto do corpo de modo a imitar esta ou aquela pessoa mais conhecida leva a que se queira tornear muitas vezes a imagem que a própria pessoa tem de si. A imposição de parâmetros que a sociedade vai colocando obriga a um desfasamento corporal muito grande, por vezes até impossível de alcançar. Ouvindo por vezes esta afirmação: “O meu corpo [como se fosse algo material] não faz parte de mim”, fico a pensar como andará o entendimento do que significa passar por um reconhecimento de quem se é.

Penso na sociedade actual, na qual, em cada vez mais situações, devido à competitividade atroz, a pessoa ou se assume como a única e tenta eliminar quem lhe faça frente, ou então se vai anulando, perdendo muitas vezes o sentido para a vida. De facto, cada sujeito é único, não podendo ser comparado enquanto ser com outro, mas é na relação que poderá encontrar o equilíbrio da reciprocidade.

É notório o desequilíbrio a vários níveis que vivemos socialmente. A superficialidade com que nos deparamos não leva ao fundo, às bases, aos fundamentos, da nossa realidade, quer pessoal quer social. Como resultado as relações humanas tornam-se também elas superficiais, ao ponto do sexo ser algo adquirido. Toma lá, dá cá. O prazer torna-se efémero e imediato, numa mera satisfação da libido. Em que o Corpo, afinal, se torna um mero instrumento de prazer… Como vejo o ser humano como sagrado, tê-lo como objecto, seja ele de que tipo for, é algo que me faz alguma confusão. Daí perceber que, mais do que rotular seja quem for, ou o que for, é necessário olhar e encarar com seriedade sobre estas dimensões tão básicas da realidade humana…

Com tudo isto, devo dizer que não defendo a anulação do sexo, muito pelo contrário. A minha decisão de ter feito o Voto de castidade, como digo, está ligada com a minha vocação. Não me sinto, nem pouco mais ou menos castrado. No entanto, isto não me leva a pensar no sexo como mau, isso seria de todo incoerente com o meu pensamento. Como acima afirmei, sexo é bom. Agora, que seja algo que contribua para a profundidade da relação entre duas pessoas. No fundo, não ser a porta de entrada da relação ou de um aproveitamento, mas em cada momento de encontro ser, mais do que genital, um clímax sexual, por envolver a totalidade das pessoas em relação. Se assim for, o sexo vivido como a unificação por Amor entre duas pessoas, não tenho dúvidas, é religioso.

2 comentários:

  1. Independentemente da relação entre Sexo e Religião, a mentalidade vigente na actualidade, numa sociedade dita moderna e aberta a todos, incide no culto do Corpo.

    O Corpo, mais do que os sentimentos é para muitos uma religião a seguir, que tudo justifica e que orienta a vida.

    Da relação entre Corpos pode até surgir o Sexo, mas nunca será Amor.

    Esse culto nunca será Religião, porque será apenas devoção carnal e faltará sempre a entrega ao sentimento.

    Mas sem dúvida a união entre duas pessoas com Amor será sempre religioso.

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  2. Bem, Paulo!!! Forte ...! Ao teu estilo! Profundo!

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