quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Promiscuidade



A recente condenação do PSD e da Somague, por financiamento ilegal, vem demonstrar com clareza meridiana a promiscuidade entre os partidos e as empresas, a que nem a última lei do financiamento partidário, mais restritiva, conseguiu por cobro. Creio, aliás, que quanto mais restritivas forem as leis, pior, porque tem sido evidente que os partidos, reflectindo aliás uma característica da sociedade portuguesa, vivem acima das suas possibilidades e a subvenção estatal é insuficiente para cobrir as despesas exageradas com os aparelhos, no seu dia a dia, e com campanhas eleitorais e outras acções políticas e arranjam mais ou menos sofisticadas “engenharias financeiras” para fugir à lei.
O PSD foi o primeiro a ser sancionado, mas casos semelhantes se têm passado com outros, como o financiamento do CDS por pequenos depósitos de donativos sob identidades suspeitíssimas (o tal Jacinto não só é suspeito como ordinário) ou o presumivelmente fraudulento financiamento do PS em Felgueiras, agora em julgamento ou… milhentos outros que fizeram história e caíram ou escaparam nas malhas da Justiça, da esquerda à direita.
Para além da ilegalidade e da imoralidade, o que deveria preocupar é o que esta promiscuidade representa para a democracia e para a independência dos partidos face ao poder económico. Ninguém acredita que as empresas que generosamente dão dinheiro aos partidos o façam de forma isenta. Esperam contrapartidas quando esses partidos chegarem ao poder ou quando defenderem determinadas soluções legislativas ou decisões camarárias que lhes interessam. O dinheiro, é assim, não tem pátria nem ética.
Agora os partidos deveriam nortear-se por valores éticos e terem consciência de que servem em última instância o País e os eleitores, que não são empresários nem possuem outra arma que não o seu voto.
Ou o sistema democrático e os partidos se reformam, de alto a baixo, quanto antes ou, com ou sem ameaças mais ou menos risíveis de “pronunciamento militar”, a democracia pode ser cada vez menos uma ideia importante para os portugueses e, pelo crescente absentismo, que já se vai verificando, um sistema prescindível.

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