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Luís Pacheco por Nuno Costa Santos
"A blogolândia tem-se enchido de notas, notinhas e notões sobre a morte de Luiz Pacheco. O que é, diga-se-se, natural. Exercícios do género acontecem sempre que os ícones pop morrem. Pacheco tem todos os atractivos para o elogio fúnebre do género "morreu um homem livre" ou "devia haver mais gente como ele neste país de cobardes". Fica bem numa t-shirt (digo-o sem maldade). Não deixa de ser engraçado verificar como é capaz - como um qualquer ídolo pop - de fazer soltar a franga ao mais compostinho dos burocratas. Pacheco é a fantasia de todo o Bernardo Soares. Foi tudo o que o empregado de escritório quer, de vez em quando, ser - um homem sem concessões. Provavelmente mais do que um homem livre (se calhar não é má ideia dar uma voltinha ao supermercado antes de fazer afirmações épicas e absolutas sobre a liberdade de um homem).
Estou com Daniel Oliveira quando diz que lhe interessa mais o Pacheco dos livros do que o Pacheco das entrevistas. A personagem Pacheco não me dizia e não me diz nada. Aliás, era-me antipática em muitos momentos. O depoimento mais forte do documentário que foi repetido ontem na 2 é o do filho do homem (o que trabalha na câmara de Palmela), quando este não hesita em dizer que isto é tudo muito bonito mas dispensava o alcoolismo devastador do pai e a fome por que passou.
Fazer da negligência e da sacanice uma ética é um caminho estranho. Mas no qual se cai por facilidade e deslumbramento. E - honra lhe seja feita - Luiz Pacheco nunca procurou ser um sacerdote da sacanice. Ele era sacana e pronto. A cartilha ética da sacanice foi e é elaborada por outros, menos genuínos do que o bicho.
Para mim, Pacheco, mais do que livros, é a boa, muito boa prosa. Ágil, esperta e culta (longe dos academismos e das casacas). A prosa de rasgo. Provavelmente não fica como "um grande escritor" porque era preguiçoso. Vai deixar marca, sim, mas, se quisesse marcar mesmo, devia ter jogado mais vezes, em vez de ficar demasiado tempo na bancada a mandar bocas. (...)"
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