Laura, sei que já passou um tempito, mas como sabes gosto de saborear as coisas boas… Quando li o teu post esta senhora não mora cá, esbocei um sorriso de orelha a orelha. Ficou-me aquela sensação de alguém que vai percebendo o valor da piedade, na atitude, a meu ver, frontal de tal sentimento.
Por vezes faz falta arrumar posições e modos de estar, que possam desanuviar algumas (das muitas) confusões que pululam por aí. Como também dizes num outro post, não interessa para nada uma atitude de grande piedade quando se sai duma missa dominical com a consciência de dever cumprido. A piedade existe, eu acredito no seu sentido mais profundo, que em nada se relaciona com a pena. Mais do que isso, há uma intimidade entre a piedade e a compaixão que fala precisamente da saída de mim para o outro, naquilo que ele mais precisa. Não numa atitude de caridadezinha, como alívio de consciência, mas numa atitude de valorizar o outro tal como ele é, independentemente da sua maneira de ser ou decisões tomadas. Isto implica profundidade, coisa que vai acontecendo cada vez menos nos nossos dias. Fica-se pelo sentimento superficial, do concordo ou não concordo, e não se avança para o que possa estar mais fundo de algo que é dito, feito ou até mesmo escutado. Piedade passa por isso, pelo estar com em profundidade numa acção concreta e que, curiosamente, pode passar pela acção do não agir. Ainda assim, o olhar não pode ser de coitadinho, mas de dignificação. Mesmo diante daqueles que desistem… Aí, como noutras situações, questiono não o porquê da desistência, digamos assim, mas o que é que nós, aqueles que afirmam o valor cristão, ou religioso, que apela à valorização da dignidade humana, andamos a fazer para que esta ou aquela pessoa não chegue ao abismo.
[Tudo isto tendo como pano de fundo que o amor deve estar mais presente nas obras que nas palavras e que consiste na reciprocidade do dar e receber (Sto Inácio de Loyola) e com a vontade imensa de sair das belas teorias passando para a acção…]
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