"Ahmadinejad foi a Columbia. Espantaram-se uns, indignaram-se outros. Não foi o caso de John Coatsworth, Dean da universidade. Coatsworth assegurou que teria convidado Hitler para ‘debater as suas ideias com os estudantes’. Como se verá, há uma espécie de coerência metodológica nas acções e desejos de Coatsworth.
Quando Ahmadinejad garantiu que não havia homossexuais no Irão, a plateia local riu-se. No entanto, quando Ahmadinejad assegura que o programa nuclear iraniano não se destina a fins militares, a plateia global leva-o a sério. É possível –até provável– que entre os presentes no auditório predominasse um sentido de humor macabro. Alguns poderão até ter sido movidos pela mesma curiosidade que atraía multidões aos freak shows vitorianos, agora para ver o ‘monstro de Teerão’.
O presidente de Columbia manifestamente não achou graça nenhuma e disse a Ahmadinejad: ‘when you come to a place like this, this makes you quite simply ridiculous. You are bracingly provocative and astonishingly uneducated." Eu também não percebo a piada; menos ainda compreendo que nenhum daqueles estudantes tenha pedido a Ahmadinejad para explicar por que razão não existem homossexuais no Irão –ou opositores à teocracia islâmica. Como este género de questão parece ser difícil para os estudantes de Columbia, dou uma ajuda: as cerca de 250 execuções políticas no Irão –só desde Janeiro deste ano– registadas pela Boroumand Foundation e recordadas hoje por Anne Applebaum mostram que a teocracia iraniana adoptou uma bem conhecida solução para o problema colocado pelos indesejáveis políticos e sociais.
Afinal, a presença de Ahmadinejad em Columbia não é descabida e permite compreender melhor a acções e desejos de Coatsworth: Ahmadinejad foi o convidado possível de uma série de conferências que gostaria de ter realizado, começando com Hitler e continuando eventualmente com Stalin, Ho Chi Minh e outros criminosos políticos. Por isso, perguntar se Ahmadinejad devia ou não ter estado em Columbia é um problema de segunda ordem. O problema primordial é que indivíduos como Coatsworth não são hoje chamados pelos nomes que teriam –colaboracionistas, hipócritas– se há meio século atrás se lembrassem de convidar Hitler para fazer propaganda em anfiteatros académicos ocidentais.
Este perigoso equívoco taxinómico e político vai alimentando as ilusões de indivíduos possuídos por visões de cataclismos purificadores, que eliminem de uma vez homossexuais, judeus e todos os que não terão lugar no paraíso na Terra. Alguém devia ter explicado aos estudantes de Columbia que também eles constam da lista de indesejáveis de Ahmadinejad. Quanto a explicar a Coatsworth o que é que aconteceria aos seus pares em Teerão caso tivessem a peregrina ideia de convidar o presidente americano para um debate académico, não creio que valha a pena: o problema não é falta de informação; é falta de carácter."
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