terça-feira, 1 de maio de 2007

On n'oublie rien de rien, on s'habitue, c'est tout (Jacques Brel)


Gosto de guardar as lágrimas.
As lágrimas guardadas amaciam o desgosto, formam uma capa nas suas arestas e assim parece que ficam menos afiadas quando ele nos morde o coração.
De qualquer maneira, as lágrimas não lavam a alma, isso é um engano. Isso é só quando a tristeza é passageira. Se for para ficar, porque não tem remédio, o melhor é deixar a dor nesse casulo líquido do que não se consegue exprimir, do que fica só nosso, protegido dos olhares, em metamorfose para a saudade, ou para a habituação, até integrar o nosso ser e ir mudando o feitio, dando sombras nos olhos, pequenas rugas aos cantos da boca, menos leveza no riso.
A vida devia suspender-se de vez em quando, naqueles momentos em que tudo parece perfeito, antes dos pais ficarem doentes e morrerem, e antes dos filhos crescerem e saírem, sôfregos da vida, à procura da sua própria felicidade.

Há um ano aprendi como os factos mais simples da vida são tão difíceis de aceitar.

É sempre tão curta a consciência que temos da plenitude.

Sem comentários:

Enviar um comentário