segunda-feira, 28 de maio de 2007

Alma Inquieta


"No berço que a ilha encerra
Bebo as rimas deste canto
No mar alto desta terra
Nada a razão do meu pranto.


Mas no terreiro da vida
O jantar serve de ceia
E mesmo a dor mais sentida
Dá lugar à sapateia.

Refrão
Ó meu bem ó chamarrita
Meu alento e vai e vem
Vou embarcar nesta dança
Sapateia, ó meu bem.

Se a sapateia não der
P'ra acalmar minha alma inquieta
Estou pró que der e vier
Nas voltas da chamarrita.

Chamarrita Sapateia
Eu quero é contradizer
No alento desta bruma
Que às vezes me que vencer."

'Chamateia' de Luís Bettencourt e António Melo e Sousa
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A versão que é cantada não é a que eu queria. Ouvi esta música pela primeira vez há muito pouco tempo, no Dia Mudial da Música, em Outubro passado, num fim de semana extraordinário que passei nos Açores. Na companhia da minha irmã e de mais alguns (excelentes) amigos tive a oportunidade de ver e ouvir a maior fadista portuguesa viva interpretar este tema tão sentido da música popular portuguesa. A minha querida Katia Guerreiro fez história naquela noite do Teatro Micaelense, em Ponta Delgada. Foi, de resto, a primeira vez que voltei àquela terra onde vivemos quando éramos crianças e a nossa amizade começou. Ela ficou por lá até ser grande e eu vim ainda pequeno. Hoje ela é a única pessoa que percebe o peso da bruma na minha alma inquieta. Os Açores marcam quem lá vive e ainda que eu tenha saído de lá com apenas 4 anos continuo a sentir o "alento desta bruma Que ás vezes me que vencer", como canta a música. Porque é uma música de saudade e porque hoje me sinto assim, nostálgico, fica a lembrança.

4 comentários:

  1. O alento daquela bruma, a atracção sentida por quem nasceu naquelas ilhas, tão bem descrito ainda, por Vitorino Nemésio, fazem-me imaginar, se, efectivamente a Atlântida de Platão não estará ali.
    Conta a lenda que a Atlântida ou Atlantis teria sido uma antiga ilha ou continente lendário, cuja existência ou localização nunca foram confirmadas.

    Originalmente mencionada pelo filósofo grego Platão em dois dos seus diálogos (Timeu e Critias), conta-nos que Sólon, no curso das suas viagens pelo Egipto, questiona um sacerdote que vivia em Sais, no delta do Nilo e que este lhe fala de umas tradições ancestrais relacionadas com uma guerra perdida nos anais dos tempos entre os atenienses e o povo de Atlântida. Segundo o sacerdote, o povo de Atlantis viveria numa ilha localizada para além dos pilares de Heracles, onde o Mediterrâneo terminava e o Oceano começava.

    Quando os deuses helénicos partilhavam a terra, a cidade de Atenas pertencia à deusa Atena e Hefesto, mas Atlântida tornou-se parte do reino de Posídon, deus dos mares.

    Em Atlântida, nas montanhas ao centro da ilha, vivia uma jovem órfã de seu nome Clito. Conta a lenda, que Posídon ter-se-á apaixonado por ela e, de maneira a poder coabitar com o objecto da sua paixão, terá divisado uma barreira constituída por uma série de muralhas de água e fossos aquíferos em volta da morada da sua amada. Desta maneira viveram por muitos anos e da sua relação nasceram cinco pares de gémeos, ao qual o mais velho o deus dos mares baptizou de Atlas. Após dividir a ilha em dez áreas anelares, autorizou supremacia a Atlas, dedicando-lhe a montanha de onde Atlas espalhava o seu poder sobre o resto da ilha.

    Em cada um dos distritos (anéis terrestres ou cinturões), reinavam as monarquias de cada um dos descendentes dos filhos de Clito e Posídon.

    Estes reuniam-se uma vez por ano no centro da ilha, onde o palácio central e o templo a Posídon, com os seus muros cobertos de ouro, flamejavam ao sol. A reunião marcava o início de um festival cerimonioso em que cada um dos monarcas dispunha-se à caça de um touro; uma vez o touro caçado, beberiam do seu sangue e comeriam da sua carne, enquanto sinceras críticas e comprimentos eram trocados entre si à luz lunar.

    Atlântida seria uma ilha de extrema riqueza, quer vegetal e mineral, não só era a ilha magnificamente prolífica em depósitos de ouro, prata, cobre, ferro, etc como ainda de orichac, um metal que brilhava como fogo. Também era riquíssima em petróleo.

    Os reis de Atlântida, construíram inúmeras pontes, canais e passagens fortificadas entre os seus cinturões de terra, cada um protegido com muros revestidos de bronze no exterior e estanho pelo interior, entre estes brilhavam edifícios construídos de pedras brancas, pretas e vermelhas.
    :)

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  2. Julgo que é "O aperto desta bruma/Que às vezes me quer vencer". Os açorianos cantam (e sentem) assim, pelo menos...

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  3. A história é lindissima, sobretudo como a contou aqui, mas acho que os Açores de hoje só podem ser mais bonitos que essa Atlântida cheia de metais, pontes e labirintos...:)

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