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Um jardim é um bocado como um cão. Definha de tristeza na nossa ausência, olha-nos com rancor quando voltamos mas começa logo a dar ao rabo às primeiras festas e lambe-nos os dedos com flores tenrinhas e pequenos insectos que crescem no meio da folhagem. Ao fim de umas horas de atenção, põe daqui, corta dali, trata acolá, a terra solta-se para receber a água e as plantas cantam de alegria. Cantam mesmo, só quem nunca cuidou de uma planta é que não acredita.
Além disso, os jardins são caprichosos e só respondem ao seu dono. Foi por isso que mandei embora o jardineiro, porque era um mercenário que fazia tudo errado, as plantas andavam baralhadas com aquele intruso e quando eu chegava não me ligavam nenhuma, estavam ofendidas.
O meu jardim é sempre bonito, seja lá em que época for, mas reconheço que esta fase em que começa a despontar o que semeei ou a aparecer os rebentinhos das plantas mais crescidas, é um esplendor de alma. Um dia destes já posso apanhar as cebolas da horta, e hoje trouxe as duas primeiras rosas, afinal o granizo não as magoou.
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