segunda-feira, 16 de abril de 2007

O meu jardim é um cão

Adoro o meu jardim. Quando lá chego vou ansiosa por o ver, avaliar como se portou, ralhar com uma ou outra planta, olhar derretida para as que cresceram, pentear as doidas de cabelo ao vento, tirar as daninhas que as afligem. Quando regresso, venho apaziguada, como se tivesse estado a conversar com um bom amigo.

Um jardim é um bocado como um cão. Definha de tristeza na nossa ausência, olha-nos com rancor quando voltamos mas começa logo a dar ao rabo às primeiras festas e lambe-nos os dedos com flores tenrinhas e pequenos insectos que crescem no meio da folhagem. Ao fim de umas horas de atenção, põe daqui, corta dali, trata acolá, a terra solta-se para receber a água e as plantas cantam de alegria. Cantam mesmo, só quem nunca cuidou de uma planta é que não acredita.


Além disso, os jardins são caprichosos e só respondem ao seu dono. Foi por isso que mandei embora o jardineiro, porque era um mercenário que fazia tudo errado, as plantas andavam baralhadas com aquele intruso e quando eu chegava não me ligavam nenhuma, estavam ofendidas.


O meu jardim é sempre bonito, seja lá em que época for, mas reconheço que esta fase em que começa a despontar o que semeei ou a aparecer os rebentinhos das plantas mais crescidas, é um esplendor de alma. Um dia destes já posso apanhar as cebolas da horta, e hoje trouxe as duas primeiras rosas, afinal o granizo não as magoou.

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