quinta-feira, 4 de maio de 2006

Maio, mês de Maria

Maria de Nazaré, presente nas mais variadas culturas, com os mais variados nomes, é um mistério na sua ligação com Deus. O português rapidamente olha para Fátima, o espanhol para Pilar, o francês para Lourdes. Já o brasileiro olha para a sua Aparecida, com um leve toque de Iemanjá.

Maria não é uma deusa. Maria, tão humana como cada um de nós, é a porta de Deus no mundo. Vive a experiência do encontro da simplicidade com a profundidade, através de um Sim que altera o percurso da História.

Um convite ao conhecimento desta Mulher, tão presente na nossa cultura, é a leitura do livro "Palavras Caladas - Diário de Maria de Nazaré", de Pedro Miguel Lamet. Edição: Tenacitas





"Escrito na primeira pessoa, à maneira de um diário, permite-nos penetrar na intimidade desta jovem eleita, seguindo a sua evolução psicológica. A sua fé e a sua fragilidade, a sua simplicidade e a sua dor, o seu mistério e a sua proximidade quotidiana vão-se-nos tornando cada vez mais familiares. (...) Pelo seu teor espiritual e humano, esta narrativa comoverá quem, independentemente das suas crenças, quiser acercar-se das lembranças que Maria guardava no seu coração" - Da contracapa.

Pequenos excertos:

Sempre gostei de apoiar os cotovelos no parapeito da janela e deixar os olhos vaguear pelos olivais e para além da linha ondulada do horizonte, sobretudo quando amanhece e um cheiro húmido a erva nova sobe suavemente da terra, a minha terra de Israel, cálida e mediterrânica, que me viu crescer como uma criança enamorada e agora recolhe as minhas recordações uma a uma, tal como recebe as uvas tenras que a parreira da latada deixa cair.

O cheiro acre e húmido a pobreza bestial que vinha da manjedoura pareceu-me perfume. Embora tivesse perdido a noção do tempo e já não fosse eu, mas ele, quem cantava, chorava e ria ao mesmo tempo, nunca poderia esquecer um único pormenor de todas as coisas que tinha vivido, já que as meditava no silêncio e no santuário mais secreto do meu coração. Desde então José e eu nunca mais falámos daquele dia nem daquela noite, só da noite, a noite de Natal.

Muitas coisas aconteceram depois, dignas de serem relatadas, mas aqui só acrescentarei que voltei para Nazaré, para a minha pequena casa, e percorri todos os seus caminhos, sentei-me em todas as pedras conhecidas e acariciei a velha mobília. Voltei ao poço e à malhada; voltei a abrir a arca, a cozer o pão e a fiar; voltei à bem-cheirosa carpintaria de José, voltei aos campos de sementeira e à ceifa; voltei aos cenários das nossas paisagens e às horas das minhas alegrias e das minhas lágrimas. Porque o meu filho, é certo, iluminou-nos e salvou-nos a todos com a sua vida e as suas palavras. Mas para mim o melhor continua e há-de continuar a ser o perfume concentrado daquelas vivas e doces recordações, as palavras caladas, que guardo com infinita ternura e que todos os dias medito no meu coração.

Boa Leitura!

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