Acabou a festa da música e saio sem saber muito bem como a avaliar. Hoje assisti a 2 concertos com um nível extraordinário. Um pianista que reafirma a sua superioridade sempre que se apresenta em público - Tharaud - cada vez mais primus inter pares e, uma surpresa absoluta para mim que entrei distraído, Dido &Eneas ópera de Purcell em concerto, irrepreensível, qualidade espantosa da orquestra, condução, coro e cada um dos cantores.
Mas, enquanto Tharaud atacava a terceira peça de Couperin ao piano, por 3 vezes abriram-se as portas e entraram grupos de pessoas, aquilo lembrou-me o Ensaio sobre a cegueira, em grupos moviam-se no escuro à procura de um lugar para se sentar, interrompendo e fazendo barulho, inadmissivel. Durante os concertos, sem referir ao fenomeno "a tosse", o velcro dos rebuçados, sacos de plástico, fechos das malas a correr, toques de telemóvel, o chapéu de chuva que cai ao chão e o seu dono cuidadosamente recupera para um equilibrio instável, as pulseiras da dama que se sentou atrás de mim e que sempre que se mexia parecia que com ela vinha o rebanho de ovelhas, a dança na cadeira do gajo da frente que me deixa zonzo, os cabelos excessivamente no ar e que toldam a visão, o chegar atrasado, os cheiros, as conversas e os shiussss, lembra-me que é triste padecer desta doença chamada Garbo - I want to be alone - de ser demasiado afectado pelo ambiente que se cria e envolve, mas, por vezes, público extremamente bem comportado, talvez em uníssono, suspensos pela música.
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