"Definitivo, como tudo o que é simples. A nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.
Sofremos não porque o nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.
Sofremos não porque a nossa mãe é impaciente connosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar a confidenciar-lhe as nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em compreender-nos.
Sofremos não porque a nossa equipa perdeu, mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está a ser-nos confiscado, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: iludindo-nos menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional".
Carlos Drummond de Andrade
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