Anda a circular um vídeo sobre “o que os finlandeses precisam saber sobre Portugal”.
Vejo o vídeo e, confesso, não fico lá muito animado, sobretudo por vir de uma entidade pública, tendo sido apresentado num Congresso.
Primeiro: não me parece que estejamos em alturas de puxar a um patriotismo exacerbado, sobretudo quando vem de um orgulho ferido, por não nos querem ajudar. Como se fosse a obrigação de primeira ordem. Será assim? Hoje em dia parece que “temos direito a tudo e mais alguma coisa”, mas reconhecer os erros da falta de cumprimento dos deveres não se fala. Preocupa-me que tenhamos de chegar a ponto de ter de pedir ajuda externa e ficarmos ofendidos por estarmos sujeitos (bem, agora foi aceite) a que digam não. Há quanto tempo andamos a receber ajuda externa? Sobretudo para desenvolvimento da agricultura, da formação humana, das redes comerciais, etc., etc. E, olhando para os resultados, que foi feito realmente com a totalidade de dinheiro recebido até hoje? Sem dúvida que houve aplicação, no entanto, chegaríamos a este ponto se tudo fosse aplicado como deveria ser?
Façamos o exercício: A empresta dinheiro a B, dizendo que é para fazer algo concreto. Entretanto, o tempo passa e, além de A pedir mais dinheiro a B, o que tem a fazer é feito a um ritmo muito lento, desordenado. Até usa algum desse dinheiro para outra coisa que não o primeiro projecto. E continua a pedir mais dinheiro a B... sem que haja frutos do projecto inicial. Até quando? Talvez B consiga ter outra percepção e dirá, um dia, que acabou o empréstimo e pede o que lhe deve. E, como a quantidade é muita, já não será só o próprio A a pagar, também os filhos e talvez os netos.
Segundo: Não sei já foi visto por muitos, mas já temos um vídeo de resposta dos finlandeses. E, claro está, “quem ri por último...”. Eles estão bem, não têm problemas de resgate e, se têm alguns conhecimentos de História Universal, acabaram por rir de algumas coisas ditas no “nosso” vídeo.
E leva-me ao terceiro ponto: Os dados apresentados pelo vídeo revelam alguma, para não dizer muita, imaturidade em aceitar a realidade como ela está. E vê-se pela forma como os dados são apresentados: sem uma reflexão prévia, pois analisando algumas afirmações acabamos por perceber que deveríamos ter vergonha em mencionar algumas coisas. É verdade que temos de nos orgulhar pelas descobertas, mas... ter orgulho por termos o menor número de patentes? Pela população portuguesa, sobretudo com excelentes qualificações, sair cada vez mais de Portugal? É certo que Cristóvão Colombo anunciou primeiro a Portugal que tinha descoberto a América, mas... teve de ir a Espanha, pois Portugal não financiou o projecto. Alguém me explica qual o orgulho de “não termos ganho nenhum concurso da Eurovisão”?
Bem, não vou analisar cada ponto.
Mais uma vez concluo que estamos numa altura em que as coisas são vistas e as decisões são tomadas sem grande reflexão. Foram já cometidos muitos erros de governação, infelizmente não admitidos, o que torna tudo ainda mais chocante. Então, não contribuamos para a vergonha nacional, escrevendo e enviando vídeos assim, seja a quem for.
Está na altura de exigir aos nossos governantes de fomentarem uma boa formação na educação, de investirem na investigação (na diferentes áreas científicas e artísticas), na Cultura (que é um dos factores de humanização) e de, uma vez por todas, deixarem de gozar com a cara dos Portugueses.