domingo, 30 de agosto de 2015

Cultura de acolhimento




Robert Atanasovski/AFP


Somos concebidos em cultura. Essa cultura que atravessa a humanidade condiciona o modo de pensar e viver. É difícil, para não dizer impossível, alcançar a pura neutralidade. Questões de crenças atravessam todos os âmbitos. Ser humano é ser crente. E não vale a pena fugir disto. Os tipos de crenças é que podem variar: do desportivo ao religioso, sem esquecer o político, elas pairam na vida de cada um. Somos cultura, somos crença… e somos relação. Nessa relação deveríamos perceber a riqueza da humanidade na sua diversidade. Chegam-nos humanos, como cada um de nós, por mar, atravessando arames farpados, de culturas diferentes. Apenas buscam viver… nem é viver melhor, apenas viver. Ficar-se neutro é impossível, já não o é optar entre o medo ou a confiança na altura de falar na ajuda que se pode dar. Continuo a acreditar que, para além das crenças todas, possa crescer a de um mundo melhor. Nestes dias, de todo que passa por acolher, e não expulsar, sobretudo quem quer apenas viver.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Notas soltas



Juan Carlos Osorio

Escrevo notas soltas
no caderno que sente
a letra mudar

o pensamento
em rabiscos e ideias

o sentimento
em frases e dizeres

entre Deus e Amor
são histórias sem fim.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Aprumar valores




Yap Kh


[Secção desabafos] Estar “fora do mundo” durante alguns dias sabe bem. É como se me fechasse numa redoma de outros ventos e marés. No entanto, sabe-me bem apenas por uns dias, pois muito mais tempo entro no perigo de desligar-me da realidade circundante. E é essa realidade que também me ajuda a pensar. É certo que temos vários níveis: o banal do quotidiano, o extraordinário, os acontecimentos de vida e o que se passa no mundo. Dá-se mais interesse conforme os gostos. Volto e leio sobre a gravidade da situação humanitária de refugiados, sobre a continuação do massacre perpetuado pelo Estado Islâmico, sobre as manifestações de extrema-direita na Alemanha contra a entrada de refugiados no país e sobre pessoas a continuar a morrer no Mediterrâneo por buscar a vida. Gosto de animação, não sou pessimista, sigo numa linha de esperança, mas que dói, dói. O que mais custa é saber que há quem tenha interesses com tudo isto, banalizanado a vida humana. Diante destes cenários, fico a pensar na hierarquia de valores que tenho de aprumar… afinal isto de amar o próximo como a si mesmo tem muito mais que se lhe diga.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Agradecer




Agradecer. Verbo bastante usado nos últimos tempos, tanto nos Exercícios espirituais que fiz e orientei, como nestes dias de Campo de Férias com uma equipa de animadores muito boa, tal como o grupo de participantes. Como não podia deixar de ser, houve demonstrações de segurança da “Jesuit Airlines”. Percebo que a farda ainda tem de ser adaptada, mas já está em caminho. ;) Sinto-me agradecido pelas boas conversas e partilhas…. com muita gargalhada à mistura. Como alguns diziam: “Oh padre, acalma lá o olhar ‘suga almas’”. Não suguei nenhuma, mas vi imensas cheias de dons, muita criatividade e com corações cheio de vontade de ajudar e servir. Não, não me venham com “a juventude está perdida”. Do muito que tenho visto, em particular estes 42 adolescentes, entre 17 e 19 anos, que animámos, todos têm potencial para ajudar o mundo a ser melhor. Eles não são o futuro, mas o presente da humanidade. Daí, muito a agradecer. :)

sábado, 15 de agosto de 2015

Partilha(s)




Têm sido dias muitos cheios, de silêncio e com muita escuta: pessoal, de Deus, de outros. Ainda estou a orientar Exercícios Espirituais. Depois irei para campo de férias. Será a loucura e animação. Daí continuar mais ausente destes lados. ;) Agradeço as mensagens que me têm enviado, responderei com calma assim que possa. Deixo uma pequena partilha do que pensei sobre a misericórdia durante o meu retiro: “Repito muitas vezes ‘misericórdia’, com o sentido de ‘entranhas mexidas’ com a dor, o sofrimento, do outro. Tenho receio de que de tanto repetir possa esvaziar a palavra, tal como acontece com ‘amor’. No entanto, tal como na dança, a repetição do gesto, do movimento, é fundamental para os incorporar, também é necessário repetir os gestos de misericórdia. Deixar que se entranhe, incorpore o sentido da entrega, do amor ao próximo. Dito assim pode ser, ou pode entrar num voluntarismo. Aqui é uma questão, mais que de esforço, da prática de amor ao próximo a partir de Cristo. Imitar Cristo, não me comparar com Ele. Senhor, peço-te, ajuda-me a ‘con-figurar’ contigo. Não para ver se chego onde tu chegas… não é uma questão de comparação ou competição, mas de viver o amor ao próximo a partir do teu amor. É aí que vou percebendo o ‘passou fazendo o bem’ e o ‘levanta-te’ tantas vezes repetido a quem estava caído, desprezado, excluído e rejeitado, sem exigires nada, absolutamente nada, em troca.”