sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Montras [de livros] parisinas



[Coisas do quotidiano em Paris] Em passeio, achei piada a esta montra de livraria. Na noite de amizade da Sophia, situada entre margens de encantos que obrigam a atravessar fronteiras, encontra-se a Zona onde tudo pára. Silêncio. [Ou sedução] Nada mais há a dizer para além da fusão do beijo que assume a prioridade: “Je t’aime !”. E, também desta forma, descobrem-se outras leituras.

...incompreensivelmente acolhe.



Bennie Davis

(Versión en español en los comentarios)


Hoje recebi um mail que me pôs a pensar: “nós, cristãos, temos de aprender a ser Cristãos”. Não basta dizer “Senhor, amo-te muito” para ser crente, mas sim “seguir a vontade de Deus”. “Morar no fogo divino”, para usar uma expressão de Simone Weil, não significa falar de Deus por tudo e por nada, ser “super-da-Igreja”, participando em todas as actividades e mais algumas, “baptizando a realidade” para se sentir o conforto de consciência de que já se tem muita fé. “Morar no fogo divino” pode ser o passo de, depois de entrar no fundo das entranhas na oração, sentir “vai por aqui, estou contigo”, mesmo que tudo o resto esteja contra. Há decisões, sejam de partida ou de chegada, que não se explicam. Até podem ser erradas e, qual filho pródigo, implicarão arrependimento. Curiosamente, foi a partir do erro que ele encontrou Vida. E é bom ter a surpresa de alguém que, ao jeito de Pai, abre os braços e acolhe… incompreensivelmente acolhe. [Obrigado pela lição que me deste.]

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

200 anos da restauração da Companhia de Jesus




Quando digo que sou jesuíta ouço uma ou outra vez alguns comentários curiosos: “ah, mas és católico?”; “isso é uma seita nova?”; “quê, dedicas-te aos bolos?”; “hmm, isso não é nada bom. O que te deu para te tornares mafioso?”. A bela da gargalhada primeiro, depois lá vem a explicação. Sim, nós jesuítas, de amados a odiados, fomos deixando marcas na cultura. Aqui pelas “Franças”, no dicionário encontramos dois sentidos: 1) membro da Ordem da Companhia de Jesus; 2) hipócrita. Oops… ;) Este ano comemoramos os 200 anos da restauração da Companhia. Uma boa oportunidade para conhecer melhor estes “mafiosos” e “hipócritas” ;) , que seguem Jesus Cristo pela espiritualidade Inaciana. 

Deixo o site com mais informações. [Para abrir o apetite, também podem encontrar a receita para os bolos... já comia um, já!]: http://jesuitasportugueses.wix.com/jubileu-2014


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Noite XL [21 de Março]




E de repente abre-se a possibilidade de uma noite diferente organizada pelos jesuítas, em tamanho XL, de Lisboa à Linha, passando pelo Forte S. Julião da Barra. Uma noite que pode ajudar a descobrir muito “dia” na vida de quem se arrisca a peregrinar, a perguntar, a conhecer-se a si e a Deus. Se a noite tem mistério, esta propõe entrar um pouco mais no Mistério. Deixo convite… [quem possa, na noite de 21 de Março, não deixe que o sono tenha a última palavra, mas a vontade de ir mais longe.]




Autenticidade



John Stanmeyer

(Versión en español en los comentarios)


Hoje deparei-me com a Autenticidade. De vez em quando bate à porta, recordando-me a importância da sua existência. É uma das facetas da Verdade. Enquanto me movia, no respiro que estabiliza, escutava: “isso”, “boa”, “sim”. Da voz exterior, era todo o corpo que me dizia: “estás a ser verdadeiro contigo próprio”. Até ao momento em que vinha o movimento falso, quase mentiroso, desligado da profundidade do ser. Aí, entre a incoerência e a plenitude, abri a porta ao ser autêntico, percebendo as entradas e saídas. Vou tentando que ela permaneça. Só assim poderei convidar a que outros o sejam também.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

"Qual a minha vocação?"



Jennifer Pearce

(Versión en español en los comentarios)


De vez em quando lá faço a pergunta: “Qual a minha vocação?” “Mas, Paulo, é óbvio: ser padre. Ou estás com alguma crise de fé?” Uma coisa é a decisão de fundo, outras são as do dia-a-dia. [Até poderia estar com alguma crise de fé e se assim fosse, como já aconteceu, vamos a isso. Vejo a crise como oportunidade e não como catástrofe.] A vocação de fundo é claríssima. Mas dentro dessa há muitas mais. Se se vive à séria, inevitavelmente é-se “in-comodado” e surge a pergunta diante de situações ou textos que desafiam. Daí que um dos verbos bíblicos mais importantes é o escutar. E escutar os “sinais dos tempos”, ou os “sinais de mim próprio”, ajuda-me a perceber onde posso dar mais de mim. Há dias que é a descansar, outros a entregar-me até à exaustão.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Coisas



Tomoyaso Chida

(Versión en español en los comentarios)

Apanhei mais dois valentes “murros de estômago”. As “dores” ainda andam a passear por aqui. É fácil encontrar respostas revestidas de espiritualismo barato, descartando a complexidade de algumas acções. Sim, “Deus olha por ti e por nós”. Sim, o “sofrimento na cruz foi grande” e “por todos nós”. Sim, sim e sim. Mas não para ser usado como alternativa à escuta do fundo e como forma de impor ainda mais culpa ao sofrimento que chegou por tantas vias. Apesar de cómodos, não gosto de “lugares comuns”… em destaque para os espirituais. Não tenho o direito de esvaziar a Palavra, tornando-a, às tantas, insignificante.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

"Homem não chora" [a mentira]



Saiu da sala. Sentou-se num banco do jardim sem ninguém. Há lágrimas que não podem ser públicas. Toda a vida ouviu: “homem que é homem não chora”. Nem se atrevia sequer ao direito da emoção da raiva, do ódio com que se lhe apresentava o destino traçado da (in)sensibilidade. Sem esperar enfrentou a mentira, essa que o queriam marcar a ferros. Acompanhei-o com o olhar. Lá, naquele banco, lia(-se) e enrolava-se: medo, vergonha, força… liberdade. Uma após outra… densas de tanto… caiam. Permitiu que me aproximasse. Nem uma só palavra entre os dois. Apenas a presença que desmascara a solidão.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Ecos [pelos que foram silenciados]



Se ontem me reduzia ao silêncio, pelos acontecimentos do mundo, hoje apetece-me gritar, gritar bem alto. Fazendo eco dos que já não podem gritar pelo desejo de Liberdade, por terem sido silenciados, mortos, assassinados. Tudo muda quando deixa de ser “apenas” uma notícia de jornal ou tv e passa a ser rosto ou palavras de quem tem lá raízes e conta a História. Já não se trata de economia ou política, trata-se de vidas (em que nenhuma é insignificante).

Recordando também a Ucrânia

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Silêncio como o meu melhor texto



Rossella Scalia

(Versión en español en los comentarios)

Há dias em que, ante os acontecimentos do mundo, o silêncio é o meu melhor texto. Estou com a sensação de que tudo o que escrevo agora é ridículo. Não tem que ver com quebra de auto-estima, incapacidade de escrita ou não haver coisas a dizer. Ainda mais quando o quotidiano segue. Apenas a certeza de que há dias em que, ante os acontecimentos do mundo, o silêncio é o meu melhor texto.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Paz [ainda em dia da Justiça Social]



Monumento pela Paz, Champ de Mars - Paris, 2014


Venezuela. Ucrânia. Síria. Ceuta. Líbano. Irão. Coreia(s). Corações de tanta gente. Rezo.

[Desabafo] Em dia da Justiça Social



(Versión en español en los comentarios)

[Suspiro] Daqueles profundos, depois de pensar: “Que andamos aqui a fazer?”. Que ando aqui a fazer? Não, não se limita à pergunta existencial, filosoficamente talhada para um ensaio ou registo de argumentos de beleza política. “Que andamos aqui a fazer?” é das perguntas que exigem reflexão: sentir e pensar antes de responder, por carregar nuances de imensos sentimentos e acontecimentos que cada pessoa vive. E que o mundo vive. Não posso abarcar o mundo, é-me impossível suportá-lo, não sou chamado a isso. Ninguém o é. É difícil, muito difícil pensar e viver o justo nos tempos que correm. Na era da informação, onde tudo se sabe, entra-se pelas casas ou almas dentro movido não pela grandeza, mas pela inveja acomodada. Talvez não seja nada novo. Marca-se com o degredo de audiências que se arrastam pela penúria do momento do sexo desvelado por câmaras espalhadas em cada canto da miséria humana, como se isso alimentasse a frustração sentida de não poder voar mais alto e mais longe. E conseguem-se mentes pequenas, pequeninas que aplaudem nem sabem bem o quê, ao sabor da emoção sem critério. Instala-se o “está mal, porque não me dá jeito”, entrando pela crítica fácil… onde a Memória vai sendo difuminada para o canto sombrio da existência. Dói estudar História, Sociologia, Antropologia, Filosofia, Literatura e, sim, Teologia, adquirindo a gramática ou o esqueleto da reflexão. O Comunismo fez mal, o Socialismo fez mal, a Monarquia fez mal, o Fascismo fez mal, a República fez mal… o poder da falta de Liberdade faz sempre mal. A Liberdade constrói-se entre perder e ganhar, saindo de si. E é difícil perder. Mais que ganhar. Consegue-se democracia onde os que perdem ganham outra força para denunciar as injustiças dos que ganharam. Se a força tem como base o rancor e o ódio, dá-se o virar de discos a tocar a mesma música, apesar da letra mudar. Se a força tem como base o querer dar Vida ao outro, a partir da colaboração, já não interessa a competição, mas a vontade de que todos, mais que vencedores, sejam. Talvez aí deixe de ser necessário emigrar, fugir, refugiar-se. “Que andamos aqui a fazer?” Da minha parte, a deixar-me “ser do tamanho do meu sonho”. E saindo de ilusões, a ajudar como posso aqueles que me são confiados a ser gente livre, para além da raça, da cor, do sexo, do credo, do dinheiro, da nação.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

[Coisas do quotidiano em Paris que se tornarão ainda mais quotidiano e ainda bem]



(Versión en español en los comentarios)


Há coisa de 3 semanas, ia no metro a caminho de uma conferência sobre o P. António Vieira na Sorbonne [com outra história, mas fica para depois]. Estava um casal de conversa em espanhol. Ele levanta-se e dança. Rimos os 3. A viagem continua. Saio. Troco de linha. Entro no metro. Oh… Eles também. Voltámos a sorrir. Aí, qual Paulo no seu melhor, meti conversa. Ele brasileiro, ela do Uruguai. Estudantes de Cinema e Vídeo. Ah, vou ali e tal e P. Antonio Vieira e jesuítas e Brasil e dança e… “eu tenho aulas com uma professora óptima. Entre outras, da escola Pina Bausch.” “Ah, mas… posso conhecê-la?” Contactos trocados. No sábado a Diana e eu, enquanto eu tomava um chá do Uruguai, sua terra, tivemos a primeira conversa: “não quero nada para mim, tudo o que recebo é para dar!” “Toma e aprende, Paulo!”, pensei. Hoje recebi a primeira aula e, entre [muitas] outras coisas apre(e)ndidas no “stand by do mar calmo”, fica-me o verso de um poema: “Ligar. Re-ligar. Religião”.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

"Ou seja"



Abelardo Morell

(Versión en español en los comentarios)


“‘Ou seja’: deves ter apanhado o ‘ou seja’ em Espanha, não?” Comentou-me há dias um companheiro (que também passou por lá). Fiquei a pensar nisso, logo mais atento a este meu bordão linguístico. Ou seja, ;) , quando se está fora e a tentar falar noutra língua os mal-entendidos são uma festa. O que faz com que o “ou seja” se torne a expressão da explicação para evitar os enganos. Mas será que é apenas uma questão de línguas estrangeiras diferentes? É sabido que um dos grandes problemas da actualidade é a falta de comunicação: não se fala; se fala é à base de indirectas; achou-se que se percebeu, mas não era bem aquilo que se queria dizer; há falta de entendimento; e por aí fora. Às tantas, há muita gente chateada devido a mal-entendidos, fazendo interpretações descabidas da realidade. Ou seja, ;) , passar do mal para o bem-entendido implica pequenos ou grandes esclarecimentos. Quando bem feitos, todos saem a ganhar.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O Condicionado [Poeta]


[“‘Desgraçado do Homem que se abandona.’ Estas seis palavras acima, mostram que por pior que seja a situação, nunca o Homem deve considerá-la perdida. Assina: O Condicionado.”] Sou daqueles que se emociona com filmes bem feitos que retratam histórias humanas. Umas com finais felizes, outras nem tanto. Contudo, podem ter o efeito de, na linha do meu post anterior, abrir à conversão. A vida não é pouca coisa, não pode ser. Sei que por vezes há a vergonha da história pessoal, da família, de não se ter atingido patamares impostos pela sociedade ou idealismos. Sim, a vida não é pouca coisa... não pode ser. [“Higiene pessoal. Higiene Mental. Aqui não sei qual a mais difícil de praticar. Assina: O Condicionado"] E termino o dia… com mais um abanão, ou abraço, nem sei bem. 

"Estou disposto à conversão?"



Harold Feinstein

(Versión en español en los comentarios)


“Estou disposto à conversão?” De vez em quando lá vem a questão. Levo-a à séria. [Cansam-me frases bonitas, ideias que aconchegam o coração ou o uso de textos edificantes que se ficam por isso mesmo.] Há conversas que deitam-me por terra algumas certezas. E há momentos que é terrível! Atenção, não aceito que tudo vale o mesmo. Quando escuto um refugiado que sofreu horrores impossíveis de descrever continuando com uma fé inabalável; alguém que acaba de saber que tem cancro e põe tudo em causa; um companheiro que me diz que na Síria, bem pertinho donde ele é, há pessoas que já estão a comer erva para sobreviver; pessoas que conheço que estão mergulhadas no desemprego ou com doenças que alteram a vida, etc.; dá-me que pensar e, sem entrar em espiritualismos rápidos e fáceis e sem remorsos ou culpa pelas facilidades ou posibilidades que tenho, procuro perceber como posso tornar-me melhor. Ou seja, deixar-me converter. Sei, como já aconteceu, que posso perder seguranças e até estabilidade emocional. Também sei que (graças a Deus o “ser em caminho”) de repente pode abrir-se algo novo. Sobretudo na compreensão. “Estou disposto à conversão?”, fica no ar a pergunta.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Homilia de hoje [decisão, Lei e Profetas, honra e dignidade]


Homilia em viagem, ao som de “Mistério” de Teresa Salgueiro

[Quando faço as homilias em português, rezo-as, escrevo os tópicos, mas não o texto completo. Assim, dentro da flexibilidade deixo que também a comunidade me fale e assim lhes possa “responder” nesta missão diaconal de interpretação da Palavra de Deus. Este texto escrevi-o agora a partir dos tópicos e do que falei… digo isto porque faltam os “movimentos de anca” e “tons de voz”… ehehehe.]

Nós, seres humanos, vivemos em decisão. “Levanto-me ou não me levanto?” “Mais 5 minutos na cama?” “O que é que vou vestir?” “Tenho tempo. Vou a pé, de carro ou de metro?” “Super Bock ou Sagres?” “O que vou escolher para comer?” Estes são exemplos das decisões do quotidiano, que às tantas são tão naturais que nem se dá conta. Depois, há as decisões de fundo, que podem implicar com a própria vida, como é o caso, por exemplo, de perceber qual a vocação.

O livro de Ben-Sirá convida-nos a aprender a decidir, a aprender a viver a sabedoria da boa decisão. Não se trata de escolher entre um bem e um mal, que isso parece demasiado óbvio para ser causa de ponderação. A questão de fundo: muitas vezes ter de decidir entre dois bens. Pensando no fogo e na água como nos fala o texto, há que perceber o que é mais importante no momento. Para tal, temos de averiguar o contexto, o tempo que temos e o espaço em que se está. As decisões de fundo são difíceis de tomar. Mas, que tempo é que se tem? Opera-se alguém que se pode salvar, mesmo sabendo que pode correr o risco de morrer na operação? Não é fácil. E muitas vezes não se pode ir no efeito “carneirada” em que “ah, toda a gente vai, eu vou também…” Calma! Será que se for por aí isso vai-me ajudar a ser mais eu próprio e mais para os outros? Em geral, as decisões de fundo estão relacionadas com o caminho que se pode seguir para se ser mais “eu próprio” e “melhor servir os outros”. Não, não tem que ver com ser super-herói, mas sim, com o seguimento daquilo a que sou chamado ao encontro da Vida. 

Daí a importância da oração, de poder escolher em e com Deus. Sempre que possível, somos convidados por Deus a levar as grandes decisões à oração. A isso também se chama fazer discernimento. Quando estava a decidir, melhor, a discernir para entrar na Vida Religiosa, se era para ser Padre ou não, passei por momentos bastante duros. Nuns a emoção dizia-me: “estás louco, nem penses”; noutros “ah, é mesmo por aqui”. Claro que não vivi isto sozinho. Outro ponto importante é saber pedir ajuda. Quase sempre, a ajuda de alguém é fundamental. Não, não é para que a pessoa decida por mim, mas, estando de fora, com a sua experiência pode ajudar-me a ver dados que eu não consigo ver. Também não significa dizer aos “setes ventos” que estou neste processo, pois muita informação também não ajuda. Depois de ter decidido ser padre houve pessoas que me deram 3 meses… já passaram 10 anos. Com as decisões de fundo não se brinca. Apercebo-me que por terem, por exemplo, medo a enfrentá-las, muitas pessoas perdem grandes oportunidades de serem felizes.  

Parece-me que de algum modo é isto que nos fala Jesus no Evangelho. Não revogar a Lei nem os Profetas, mas completá-los também é dizer: “aprende a seguir e a decidir pelos mandamentos, tendo como fundo a misericórdia e o amor”. Neste grande Sermão da Montanha, Jesus fala para muitos de pensamento judeus. A Lei e os Profetas eram peça fundamental na fé do Povo de Israel. Recordemos que, por exemplo, os livros do Deuteronómio (não, não é “Doutor Anónimo” como alguém uma vez leu na Missa. É Deu-te-ro-nó-mio ;) ) e do Levítico apresentam a Lei através das múltiplas leis ao jeito de regras, para se viver bem a relação com Deus. Essa Lei, essa tradição fazia todo o sentido e Jesus não queria aboli-la, nem podia, pois é a História com que o povo foi sendo guiado. Mas vem completar com a visão amorosa e misericordiosa de Deus. Ou seja, a Lei vivida sem amor, sem misericórdia, é apenas cumprir regras por cumprir. Basta pensar que o próprio Jesus, por amor, transgrediu algumas regras, por exemplo, quando cura num sábado. 

Encontramos isto nos vários exemplos que Jesus vai apresentando: está escrito não matar. Pois bem, odiar alguém já é terrível. Atenção, não esquecer que os sentimentos não se controlam, a questão reside no que se faz com eles. Surge o ódio no coração: se o alimento já estou destruir-me a mim e, de alguma forma, a outra pessoa. Ora, cá está: como cristão, que ando aqui a fazer? Vou deixar estes sentimentos me controlarem? É duro dar a outra face, mas se, em nome de um bem maior faz mais sentido, não vou deixar nem o ódio, nem a morte prevalecerem sobre a grandeza que é o Amor de Jesus. E depois, vamos ser práticos. Jesus, na sua imensa sabedoria, não se ficava pelo espiritual: “estou chateado com algumas pessoas, mas vou rezar muito para ser uma pessoa muito boa!” "Sim, reza! Sem dúvida! Mas, olha lá: a oração não te adianta de muito se não pões em prática o amor e esse teu desejo de ser boa pessoa. Deixa lá a oração e vai ter uma boa conversa com quem tem alguma coisa contra ti.” Lembram-se do dar a outra face? Pois é aqui que entra: às vezes nem temos culpa, mas em nome da Amizade, damos o primeiro passo do perdão. "Depois, continua a rezar para continuares a ser alguém que anima, que dá vida, que põe o bem diante do orgulho pessoal." Ui, isto de ser Cristão… ;) 

Agora vem a mão e olho arrancados. Permitam-me que faça um pequeno parêntesis. Aqui está um bom exemplo em como nem sempre se pode ler a Bíblia de forma literal. Ao chegar a esta passagem, se a lesse dessa forma, eu, Paulo, já estava cego há muito tempo e estou desconfiado que nem andava, nem tinha mãos, nem braços. Já estava tudo cortado. ;) A bíblia tem diversos géneros literários e é por isso que é importante aprender a lidar com a riqueza destes textos. Jesus não nos está a mandar literalmente arrancar olhos, nem cortar mãos. Jesus convida-nos a arrancar a má visão das coisas, o que não nos faz ver bem. Jesus convida-nos a cortar as más acções. Obviamente se tenho uma má visão, isso vai-me afectar o corpo todo. Se faço uma má acção, todo o corpo vai, mais cedo ou mais tarde, sofrer. Caros amigos, se há visão e acção de arrogância, de superioridade, de maldade, de inveja… toca a arrancar isso tudo. Ver o mundo com os olhos de Deus é vê-lo com potencialidade de Vida e assim a minha acção, na linha das “mãos de Deus”, vai ajudar que esse mundo (família, trabalho, comunidade), possa ser melhor.

Isto leva-me para o último ponto: o sim que é sim e o não que é não. Esta passagem termina com Jesus a dizer: “queridos amigos, vivam a honra e a dignidade de Filhos de Deus que são. Não adianta andar com juramentos. Que a vossa palavra seja de honra e não conforme a tentativa de agradar para quando dá jeito.” A realidade não dá para ser mudada. Os factos estão lá. Toca a assumir o compromisso feito. Que custa, ninguém diz o contrário! Não nos deixemos levar, como dizia há pouco, pelo “efeito carneirada” quando se percebe que está tudo a ir a caminho do precipício. No entanto, se houver engano, não nos esqueçamos: arrepender também é caminho e o perdão de Deus está sempre pronto a ser dado.

Em resumo: Em mais um passo na nossa peregrinação da vida, somos convidados a aprender a saber decidir e viver a Lei acompanhados de Jesus que a completa com amor e misericórdia, sendo gente honrada, que faz os possíveis para caminhar em sinceridade no encontro consigo e na entrega ao outro. Amén. 



sábado, 15 de fevereiro de 2014

[Sem] Sofrimento [no mundo ideal]



B. Anthony Stewart

(Versión en español en los comentarios)


Óbvio ninguém gosta de sofrer ou ver sofrer (sim, vou esquecer neste texto os “sado-maso”)! Óbvio que o mundo ideal seria onde haveria temperatura amena todos os dias, apenas com a chuva suficiente que permitiria cantar e dançar o “singing in the rain” e regar os campos que alimentam com frutas e vegetais super-viçosos, onde havia gente super-bonita tipo revistas, super-feliz com as suas roupas da moda (cada qual saberia da sua), a super-viajar imenso, sem preocupações com dinheiro, a poder comer o que se gosta, pois não haveria problemas com peso e pele. Todas as pessoas teriam super-fé no Deus ideal. Trabalho? Essa palavra nem existia no dicionário! Os maridos e as mulheres super-queridos uns com os outros. Os filhos seriam super-perfeitos a todos os níveis: super-saudáveis, super-inteligentes, super-educados, super-arrumados, super-poupados, super-amigos dos animais. Sim, o sofrimento seria banido… como tanto se deseja no pensamento de leis que me assustam. Mas, neste mundo “super-tudo” haverá alguém que terá de ser ainda mais super. E o que acontece? O “super”, sobretudo dos outros, passa a ser um problema. Alguém não acha piada a quem seja mais super. Subtilmente a inveja, o desejo de eliminar surge e… pouco a pouco, o sofrimento acontece. E em nome da perfeição cria-se uns critérios para definir os perfeitos, para se eliminar o sofrimento, para que os “mais-super” possam manter esse registo de “mundo ideal”. Até que um dia, apenas resta o super-perfeito: só, abandonado, talvez feliz, no seu mundo vazio. O sofrimento é duro, óbvio que não se gosta de sofrer. A força não está no sofrimento, mas na possibilidade de entender que, apesar da sua existência, não tem, não pode ter a última palavra. Enquanto o ideal estiver na perfeição e no poder, em vez da Relação que dá aquela vitalidade que ajuda afirmar “apesar de tudo sou e quero ajudar a ser”, caminhar-se-á em direcção a um mundo vazio e sem cor. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Hoje e o Amor


Brendan McCarthy

(Versión en español en los comentarios)


Amor! Namoro! Corações! Flores, chocolates e poemas! Também tristeza e desencanto! Dor e saudade! Hoje é o dia que muito se falará disso… ou se sentirá. Entre sorrisos e consumos. Que não prevaleça o consumo, mas os sorrisos, os beijos, os abraços… os “gosto muito de ti” sinceros e cheios do agradecimento pela vida do Outro. Pela gratuidade que condensam, poderão ter aquele poder mágico de reavivar. Não se nasce para sofrer, nasce-se para amar. E se há sofrimento que aparece, desejo e rezo para que o sonho seja mais forte que a dor.

P.S. - Fui desafiado pela "Imissio" a escrever sobre o Amor para este dia de S. Valentim. Para a inspiração do texto ajudou estar na "Cidade do Amor", ajudou amar, ajudou ser amado, ajudou escutar amantes e desamados e, sobretudo, ajudou comer alguns chocolates em forma de corações. ;) [Um pormenor curioso: o meu texto é o #7... gosto muito dele: diz que é o número da plenitude] - Para chegar ao texto, basta clicar na foto abaixo.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Mafalda | Mafi | "Mafaldisses"




Ricardo Quintas

Querida Mafalda

sei que me permites que escreva sobre ti. Conheço-te há dias… apesar de já te ter visto tão perto há uns anos, em Lisboa. Confesso-te, já me tinhas chamado à atenção. Agora, depois de falar contigo, recordo perfeitamente as tuas gargalhadas. Entretanto o tempo passa, o normal, cada um a fazer o seu caminho. Mas, entre auto-estradas e vielas de campos perfumados e enlameados pela chuva [sabes melhor que eu: nos passos dados não há apenas rosas], entrecruzam-se os espaços, os tempos, as vias e, de repente, a Suzanne fala de nós um ao outro. E na tua cadeira de rodas és mais rápida que eu. Sim, bastava um clique, mas não te chamem nem lenta, nem pequena. Em meia dúzia de palavras, [sim, a culpa é da escrita] demo-nos voz e vida. Sabes rir das tuas dores e fazes-me mais uma vez pensar que a força presente na fragilidade pode ensinar que a perfeição nada tem que ver com beleza, mas com amor à vida e aos sonhos. Ambos rompemos esquemas, acompanhados pelo Deus que se humaniza nos nossos testemunhos, igualmente diferentes. Os teus ossos podem não ser de diamante e o cálcio, esse, fica retido sabe-se-lá onde, fazendo com que quebres. Mas como partir também tem o significado de ir, acredito que vais longe e com o teu olhar, vida e fé, fazes com que muitos possam viajar ao encontro de si e de outros. Se alguém te fica indiferente, é porque ainda não nasceu. Gosto de ti! Rezo por ti! 

Abraço suavemente apertado. 
Paulo

P.S. - Estou desejoso de te pegar ao colo!! :)


[Para saber um pouco mais desta grande Mulher: essejota.net | Mafalda Ribeiro]

Coisas banais!



Steve Reymer

(Versión en español en los comentarios)


Manhã produtiva: roupa a lavar, apanhar roupa, passar roupa a ferro. “Ui, querem ver que ele agora também vai aderir ao publicar-tudo-e-mais-alguma-coisa-que-faz-ao-longo-do-dia?” Calma. Estava há pouco a passar a ferro e lembrei-me disto: que bom não se pensar no banal das coisas. O quotidiano normal, corriqueiro, que não se pensando nele, tal como o respirar, tem uma importância tremenda. Viver o ordinário sem se subjugar a ele pode ser um bom suporte para o extraordinário. Sim, é isso, é preciso respirar bem para se poder ir ora ao alto dos céus, ora aos fundos do mar. P.S. - Imagino que alguém vai dar-se conta da inspiração e expiração. Eheheh! Se assim for, recorde aquele cheirinho bom de amaciador. ;)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Poder? Eu tenho poder?



James L. Amos

(Versión en español en los comentarios)

“Tens noção do teu poder?” “Poder? Como assim?”, perguntei. “Já viste a quantidade de gente a que chegas?” “Sim, percebo o que dizes. Tenho pensado nisso e por vezes não é fácil. Tenho consciência da força das palavras. Sei que revelam muito de mim, do meu pensar e agir. Não esqueço que também represento a Companhia de Jesus e nela a Igreja. Já apaguei muitos textos antes de os publicar. Já retoquei outros. Alguns publiquei como grito de indignação ou revolta. Mas não será a vida assim? Não se vive fora de um contexto e, ao mesmo tempo, desenvolve-se a personalidade e o ser. Parece-me que nunca toquei limites, mas se um dia para ajudar alguém na sua salvação tiver de o fazer, até posso arriscar-me ao pecado. É impossível trabalhar na terra sem que as mãos fiquem sujas. Sim, posso pôr umas luvas… mas, recordo que Moisés teve de se descalçar para tocar a terra sagrada e que Jesus cuspiu para outra terra: com a lama deu vista ao cego”. 


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Leio o que escrevo [e rompo os meus esquemas]



Harold Feinstein

(Versión en español en los comentarios)


Eu também leio o que escrevo. No final de uma Missa, uma pessoa já com alguma idade pediu-me a mão a beijar. Não foi a primeira vez que aconteceu. Dessa vez respondi veemente que não. Desta vez, voltei a sentir a repulsa ao gesto. Lembrei-me do que costumo escrever sobre “romper os esquemas”. Há coisas que são antiquadas e têm que mudar, mas, numa fracção de milésimos de segundo… “respeita a pessoa que aprendeu a viver assim. Rompe tu, neste momento, o teu esquema de vanguardista”. A senhora beijou-me a mão. Lá foi à sua vida e eu senti-me pequenino e envergonhado.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Arriscar e dar volta ao Mundo


Paolo Pellegrin

(Versión en español en los comentarios)


Fico fascinado com passos de coragem. Arriscar e dar a volta ao Mundo [literalmente ou pessoal]. Uns poderão pensar: insensatos, irresponsáveis, egoístas até. Paciência, para os que ficam ao jeito de Velhos do Restelo. Há passos que têm de ser dados, todo o corpo, todo o ser estremece nessa vontade em sair do conforto e abraçar novas oportunidades, mesmo no desconhecido. Há riscos, sim, há. Sem a devida dose de loucura, poucos seriam os desejos realizados. Alguns estão escondidos em decisões que para muitos poderão ser imprudentes. Sei de algumas que salvaram vidas, outras que se abriram a outras vidas. E o coração expande-se.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

"Vi-te no Comboio"




Acabei de “likar” a página de facebook "Vi-te no Comboio". Não, não estou interessado em encontrar por quem me apaixonei ou por quem, na troca de olhares, o coração bateu mais forte. ;) [Às vezes acontece… e uma pessoa dá graças a Deus pela beleza da criação Saliento que não tenho dúvidas de que o meu coração configura-se na universalidade. ;) ]. Mas, como dizia há dias, fascina-me o ser humano. Ainda hoje, no seminário que faço de Antropologia e Filosofia, falámos da riqueza que o ser humano é: que tanto dá para a grandeza como para a miséria. Sou fã das páginas que tocam histórias humanas, ou de possibilidades de encontros. Não sei se se encontra o Amor da vida, mas há sempre oportunidade de descobrir alguém que pode bem ser “the one”… mas a timidez ou paragens diferentes ditaram outros caminhos, que podem voltar-se a cruzar. Seja como for, ao ler as histórias que por lá se publicam não posso deixar de sorrir: o Amor é muito criativo! 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Estereótipos



Brian Yen

(Versión en español en los comentarios)


Há dias que me sinto meio perdido neste mundo. Talvez seja da chuva ou então da quantidade de opiniões de cariz ideológico que proliferam [e só fazem mal]. Quando vou, por exemplo, no metro, olho para as pessoas e vejo gente de todo o género e feitio. Apercebo-me que é tão fácil entrar em estereótipos: preto = vagabundo; mulher de mini-saia = prostituta ou vadia; gay = bichona; tem mala de Louis Vuitton = consumista; árabe = terrorista; lê o jornal gratuito “Metro” = inculto; crente ou religioso = antiquado… e por aí fora. Uma das minhas batalhas é que o ser humano seja mais humano. Não significa sermos amiguinhos uns dos outros, todos muito felizezinhos e contentinhos da vida. Significa pensar que a pessoa não se reduz a uma característica e se uns tiveram ajudas e aproveitaram, outros não aproveitaram e outros ainda: “Ajuda? O que é isso?”. Tento fazer o esforço de não julgar a partir das aparências… sobretudo por já ter sentido o peso do julgamento.

Um fotografia oferecida



Luis Barbosa

(Versión en español en los comentarios)


A Maria hoje ofereceu-me esta foto. Diz que tem que ver com a minha fé, com a sugestão de que a legende. Vi-a há pouco no telemóvel. Chego a casa e detenho-me. [Antes, fico com o sorriso agradecido por alguém rever-me, com o detalhe da fé, neste caso numa foto.] A minha fé é um reflexo da relação que construo com Deus. Tenho-me apercebido cada vez mais que nalgumas coisas não sou convencional e vejo a realidade um pouco ao contrário do comum. E algo é certo: as pessoas são centrais na minha vocação. Vivo dúvidas, que também me permitem fazer caminho em momentos nublados… junto com as profundas convicções que me alicerçam no essencial e que suportam a possibilidade de encontros de mundos, muitas vezes diferentes. Obrigado! Muito obrigado! ;)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Cruz [no espelho]


(Versión en español en los comentarios)


“Tome a sua cruz e siga-me!” Esta frase pode ser uma fatalidade, se vista com olhos de peso, sofrimento e até possível sadismo e/ou masoquismo. Como dar sentido ao que acontece, ao que vivo e ao que sou? Meia volta, lá me ponho a pensar nisto. Aproveitando o mega-espelho do quarto, escrevi uma cruz e assim revejo-me nela quando num arrebatamento de vaidade me admiro. ;) Amar entre 4 pólos. Na horizontal, a relação entre Deus e a minha pessoa: Deus que assume plenamente a condição humana (tal é um fascínio continuo em mim). E igualmente fascinante, diz-me que a minha fé me salva. Na vertical, o convite a amar-me em profundidade, mesmo nas cavernas mais porcas e obscuras da minha história ou decisões. Tal, ao jeito de poderoso trampolim, eleva-me ao Amor aos outros [tal como eles são!]. Isto é tudo muito bonito se fosse imediato… vai daí ser cruz: às vezes não me apetece, quero tudo à minha maneira. No entanto, mesmo sabendo que não é imediato [e ainda bem], arriscar-me a amar (cada qual saberá a forma em que o fará) permite-me tomar a minha vida e seguir o caminho da Liberdade (sim, com “L”!). 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Rostos... multifaciais!





[PT] A importância do rosto? A expressão que converse, sem palavras.


[ESP] ¿La importancia del rostro? La expresión que charle, sin palabras.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Dia do consagrado




Lidia Chaulet

(Versión en español en los comentarios)


A vida religiosa provoca admiração, inquietação, dúvidas, rejeição, indiferença, humor. Aproxima-se o Carnaval e de certeza que se encontrará alguém vestido de freira (mais ou menos louca) ou de frade bem “apessoado” com bochechas de vinho. Nós, religiosos, somos dados à caricatura. ;) Sou dos que acha que está a dar-se uma mudança no modo de ser religioso na actualidade. Continuamos a ter algo a dizer ao mundo, não tanto na crítica, mas a ajudar a dizer a cada pessoa de hoje: és mais do que pensas! Mas é preciso ser padre ou freira para isso? Sim. Pela especificidade da nossa entrega total de vida a Deus, somos chamados a dar Esperança… no estar, na escuta, na luta pela justiça, sobretudo dos que são rejeitados pela sociedade. E em vez da imagem da freira louca ou do padre comilão (haja criatividade ;) ), teremos o exemplo de alguém com quem dá gosto estar, porque à semelhança de Deus, tenta amar a pessoa tal como ela é.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

[Em Vésperas do] Dia do consagrado




(Versión en español en los comentarios)

Por celebrarmos amanhã o dia do consagrado, pediram-me para ir hoje ao Colégio falar aos alunos sobre a minha vocação religiosa. Comecei por dizer que fui descobrindo, ou melhor, percebendo qual a vocação na vida. Em caminho, portanto. Já me perguntaram uma ou outra vez por aqui… Em resumo resumido, aqui vai.


Quando tinha 5 anos dizia que queria ser padre. Mas foi uma ideia que rapidamente se dissipou aos 7 quando fugi (literalmente) da catequese. Ai a rebeldia em mim. ;) Quando tinha 15 morreu uma grande amiga e Deus entrou de fininho. Fiz a 1.ª Comunhão com 16. Aí já começavam a surgir "inquietações"... mas "não, isso não é para mim, quero ser veterinário". Entretanto, não entrei em Veterinária e sim, em Ergonomia. Anos depois, concorri à PGA e entrei. Fui Comissário por 3 anos. Nesses anos, passei pela fase New Age (com meditações de Lua Cheia, Cristaloterapia, astrologia, etc e tal), estive num grupo de Jovens e depois conheci os jesuítas. Numa peregrinação, em que pela primeira vez estive no apoio ao serviço de outros de forma gratuita, bateu mesmo forte: "que quero para a minha vida?". Percebi que tinha de dar um passo mais. Passei um ano a pensar nisso... até que nuns Exercícios Espirituais, mais vocacionais, foi claro. Sentado num pontão, na praia, vejo um avião a passar. "Deixa-o ir que já não te pertence", foi o meu pensamento imediato. Instalou-se em mim uma paz inexplicável. ;) [Obviamente estou a resumir MUITO ehehehe]. E decidi entrar na Companhia de Jesus, para ser padre. Depois, o percurso mais ou menos normal: noviciado, estudei Filosofia (aqui comecei a ter aulas de dança, sobretudo contemporânea), fui professor num colégio (CAIC!!), estudei a lic. em Teologia em Madrid, onde fui ordenado diácono. Agora estou em Paris… e em breve serei ordenado padre. Escolho esta foto para ilustrar esta partilha por um pormenor: nota-se a mudança de pele. Em cada dia continuo a (re)descobrir o que Deus vai-me pedindo, o que exige o arriscar-me a mudar… para melhor entregar-me ao Outro. O calor ou frio [da Vida] queimam, obrigando a pele a rejuvenescer… mas também marcam pelas rugas, pela história. E sorrio, porque, como lhes dizia hoje: Sou feliz!